Aficcionados queixam-se de estarem a ser postos de parte pelo Governo

As queixas nos seus websites e fóruns têm sido uma constante. Queixam-se de que o Primeiro Ministro, a Ministra da Cultura, a Ministra da Saúde e o Ministro da Economia se reúnem com vários promotores de espectáculos, mas que estão a deixar a tauromaquia de fora.

01 mayo 2020
Portugal.

As queixas nos seus websites e fóruns têm sido uma constante. Queixam-se de que o Primeiro Ministro, a Ministra da Cultura, a Ministra da Saúde e o Ministro da Economia se reúnem com vários promotores de espectáculos, mas que estão a deixar a tauromaquia de fora. Parecem ser os únicos que ainda não perceberam que, pese embora a tauromaquia esteja legalmente inserida na Cultura, não é uma actividade bem vista nem acrescenta nada positivo ao país. Se se sentem colocados à margem, como eles próprios dizem, é porque, de facto, estão. Estamos a falar de uma actividade que não reúne qualquer consenso, que cada vez recebe mais repúdio por parte da população. Com excepção de quem nasceu e cresceu absolutamente dessensibilizado à violência, algumas pessoas menos sensíveis que se tornaram aficcionadas já adultas, e, claro está, quem retira dividendos da actividade, em 2020 já ninguém aceita que aquele tipo de crueldade se coloque no mesmo patamar que actividades culturais positivas, educativas, decentes.

REUNIÃO PROMOTORES

Na carta aberta que enviaram à Ministra da Cultura, as três associações que se assinam dizem coisas como "Incorporamos quase 100% de mão de obra nacional, exportamos cultura portuguesa, contribuindo para a divulgação da nossa cultura e para o equilíbrio da balança comercial. Fomentamos o turismo e temos de um impacto económico direto e indireto de muitos milhões de euros, criando emprego e riqueza, muitas vezes em regiões deprimidas do interior".

"Queremos promover a confiança, o festejo e a felicidade das pessoas porque é nestes momentos mais difíceis que a cultura é mais precisa do que nunca. Ela é 'o alimento de primeira necessidade para a saúde mental'.

Isto é o “alimento de primeira necessidade para a saúde mental”?

Taurada

Quanto a fomentar o turismo, a alimentar famílias e tudo o mais, é sobejamente sabido que não é assim. Turismo para ver animais a serem barbarizados? Não é por acaso que em praças de touros como a de Albufeira, já há alguns anos que colocam nos cartazes promocionais “the bull is not killed” - “o touro não é morto”. Sabem bem que as pessoas se chocam e que a esmagadora maioria das/os turistas jamais iria deliberadamente ver uma enormidade daquelas. Além do mais, são constantes os relatos de pessoas estrangeiras que saem da praça em lágrimas dizendo que não faziam ideia do que iriam ver. Acham-nos um povo bárbaro, parado no tempo, por permitirmos que se chame entretenimento a um exercício de violência pura. Além do mais, mentem. Talvez pudessem ser honestos e dizer “the bull is not killed in front of you” - “o touro não é morto à sua frente”.

Quanto às famílias que vão passar fome se a indústria não for apoiada, também é sobejamente sabido que, à parte dos empresários ricos que têm também outros negócios e outras actividades, o número de funcionárias/os que dependem directa e exclusivamente da tauromaquia é baixíssimo. O número é baixo, sim, e são, claramente, pessoas cuja actividade pode ser reconvertida. Muitas dessas pessoas estão ligadas à agricultura, à parte da tauromaquia. Aliás, esta seria uma boa altura para se reconverterem uma série de actividades, que além de nefastas, estão obsoletas. Todo o apoio para isso, com certeza! Quem defende os animais, defende também a dignidade de humanos, de trabalhadoras/es que merecem todo o respeito e consideração. É possível reconverter o sector. Já aconteceu antes ao longo da História e acontecerá neste caso também, mais cedo ou mais tarde. Quanto mais cedo, mais vidas se pouparão, mais civilizada e ética será a nossa sociedade.

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